Tradicional família japonesa do início do Séc XX |
Confesso que um dos lugares que
mais gosto de visitar em São Paulo é o bairro da Liberdade. O bairro é
tradicionalmente conhecido como a sede da comunidade japonesa em São Paulo.
Não sou japonês e nem tenho
nenhuma ascendência oriental, mas o povo japonês cultiva qualidades que
pessoalmente me agradam muito, como:
1. Eles preservam sua herança cultural, lingüística e étnica - É
fácil notar num simples passeio pelas ruas do bairro, o apego que eles têm com
sua escrita (várias bancas de jornal vendem periódicos em japonês e outras
línguas orientais), fácil também é perceber que valorizam a comida tradicional
e os objetos artísticos que eles mesmos produzem.
Percebi a presença de muitos
ocidentais nos três mercados especializados em produtos japoneses que visitei,
mas mesmo assim percebi um número razoável de clientes fiéis da própria
comunidade que optam por comprar produtos de origem japonesa.
Crianças, adolescentes, jovens e
idosos, não importa! Todos estavam comprando produtos de origem oriental e como
se não bastasse, pasmem: muitos (inclusive crianças pequenas) se comunicavam em
japonês! Mal sabiam andar, mas já ensaiavam as primeiras palavras do idioma de
seus ancestrais. Realmente me senti
privilegiado por presenciar aquilo. Foi verdadeiramente uma experiência muito
rica.
A longevidade deles também é algo
admirável. É comum ver dezenas de senhores e senhoras, de idade bem avançada,
caminhando pelo bairro. Eles envelhecem bem, sabem se cuidar, mas ao mesmo
tempo sabem aproveitar os lícitos prazeres de uma vida pacata. (Temos que
aprender a fazer isso aqui no ocidente).
Outro aspecto interessante é
notar que muitos orientais (não apenas japoneses), preferem namorar, noivar e
casar com parceiros de sua própria comunidade.
Confesso que pessoalmente, pensei que essa era mais uma daquelas
tradições antigas que ninguém mais utilizava hoje em dia, mas para o meu
espanto vi dezenas de casais orientais jovens circulando pelas ruas do bairro. Não sei o porquê isso acontece, talvez seja por simples afinidade cultural. Talvez
seja mais fácil e menos conflituoso ter um relacionamento com que entende a
realidade em que você e sua família vivem. Talvez seja mais simples não ter que
ensinar seu parceiro a comer de “hashi”,
ou mesmo explicar por que algumas famílias comemoram o ano novo em duas datas
distintas.
Não tenho idéia do por que existe
essa valorização e incentivo de relacionamentos dentro da própria comunidade,
mas confesso que é algo realmente bonito de se ver.
Família japonesa nos dias atuais - Tradição e modernidade caminham lado a lado |
2. Eles preservam valores como respeito, trabalho, paciência e gosto pela arte - Em que pese à presença de pessoas de outros lugares no oriente (chineses, coreanos etc), é incrível observar o gosto em comum que eles têm pelo trabalho. Não importa o ramo: restaurantes, lojas de roupas, consultórios odontológicos, escritórios de advocacia, escritórios de engenharia, lojas de música, loja de cosméticos, quitandas, mercadinhos, barraquinhas de artesanato, barraquinha de comida, jornaleiros, vendedores de produtos de procedência questionável e até academias de artes marciais... Tudo é sempre um negócio familiar! É bem comum ver os filhos dos proprietários do negócio passando o dia com seus pais no trabalho ou mesmo tomando parte nos negócios da família. Pelo que pude perceber em conversas rápidas com alguns membros da comunidade, é que esse tipo de estrutura garante para toda família um meio seguro de subsistência, preserva o contato familiar e ainda por cima garante que o dinheiro sempre circule dentro da própria comunidade. Incrível, não? Medidas tão simples que geram resultados tão sólidos.
É impressionante a consideração
que os próprios japoneses demonstram ter com os seus idosos. Não importa onde, for sempre encontrará um
idoso sentado, observando a vida, palpitando, trabalhando ou simplesmente
brincando com os netos. Ao contrário do
que temos praticado aqui no ocidente de maneira geral, o idoso parece ter um
lugar na sociedade.
No tocante a arte não há muito que ser dito.
Eles definitivamente se orgulham do que produzem. Excelentes academias de artes marciais, música
tradicional, quadros, artesanatos diversos, fotos, colecionismo e tudo mais que
possa envolver um sentimento de identidade cultural.
Pois é, percebi que os orientais
de modo geral têm muito a nos ensinar a respeito do que de fato significa
valorizar suas raízes e sua cultura. Nós ocidentais temos sistematicamente
negligenciado nossas raízes, nossa cultura e nossa fé. Talvez, justamente nesse sentimento de amor,
pertencimento, gratidão, honra e respeito que resida o verdadeiro significado
do quinto mandamento: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus
dias na terra que o Senhor Deus, te dá.
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