sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ciência e Fé Cristã podem conversar?







A glóriade Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinha-las. (Provérbios 25.2)



Hoje alguém me perguntou ressabiado se é possívelfazer a fé cristã e ciência conversarem. Nada estranho! Afinal, de modo geral,para o nosso tempo, fé em Deus é fé em Deus, e ciência é ciência. Aliás, talveza maioria das pessoas em nossos dias, contraponha o pensamento cientifico nãoapenas ao conhecimento de Deus, mas à fé, em geral, como se houvesse umacontradição necessária entre ambos, e uma conversa entre eles fosse algoimpossível. Se a pergunta fosse quanto a contradição entre ciência e fé, a respostavoltaria imediatamente em forma de outra pergunta: E quando foi que elasdeixaram de se falar? Mas como a pergunta qualificou a fé, o diálogo continua.



Apesar deste status quo contemporâneo, à luz de umacosmovisão cristã não existe uma contradição necessária entre o conhecimentocientífico e o conhecimento de Deus, isto é, elas não são necessariamenteinimigas. Pelo contrário, de acordo com a revelação bíblica, o mundo foitrazido à existência por Deus, e, portanto, está repleto de traços autorais dele.Nas palavras de Davi: Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anunciaas obras de suas mãos (Salmo 19.1). E, nas palavras do Apóstolo Paulo: osatributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a suaprópria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendopercebidos por meio das coisas que foram criadas (Romanos 1.20). Isto significaque, o verdadeiro conhecimento científico, ao invés de nos afastar de Deus,deveria nos aproximar dEle. Na perspectiva bíblica, ciência e fé cristãdeveriam conversar sempre. Aliás, a ciência moderna nasceu em solo cristão.Schaeffer afirma que os primeiros cientistas modernos alimentavam a convicção,em primeiro lugar, de que Deus proporcionou o conhecimento ao homem através daBíblia – conhecimentos acerca do próprio Criador e também acerca do universo eda história. A afirmação de Schaeffer se confirma, por exemplo, na declaraçãode Copérnico, de que estava tentando descobrir o mecanismo do universo, feitopara nós por um criador supremamente bom e ordeiro. Os primeiros cientistastinham a percepção de que as regularidades presentes na realidade apontam paraum “projeto inteligente”, e criam ser Deus a origem do mesmo. Eles sabiamexatamente da glória de Deus e da glória dos reis.

Então, pergunto: por que tem sidodisseminada a ideia de uma contradição necessária entre ciência e fé cristã?Não há espaço nessa pequena reflexão para apontar com a devida abrangência eprofundidade todas essas razões; talvez técnicamente até haja, mas poucosleriam até o final. Mas, poderíamos resumir afirmando que isto é uma questão deprincípio (cosmovisão). Embora a ciência moderna, cujos princípios estão, demodo geral, ainda vigentes, tenha nascido em solo cristão, ao longo do tempoela conversou e tornou-se amiga demais de uma cosmovisão materialista, ounaturalista, cuja premissa básica (de fé, diga-se de passagem) é que o mundomaterial é tudo o que existe, e que qualquer explicação digna do status de“científica” precisa manter-se nos limites da materialidade. Consequentemente,ela passou a excluir qualquer possibilidade de que seja válida uma explicaçãoque considere um ponto de transcendência, isto é, que explique o mundomaterial, levando em conta algo ou alguém que esteja fora dele. Assim, nasceu adissociação entre fé cristã e ciência. E, a partir de então, embasada nestasuposta dissociação, e relegando o conhecimento de Deus ao nível de umconhecimento inferior, esta cosmovisão materialista, tem estendido suas asassobre o conhecimento científico de modo total e abrangente. Em resumo, airreconciliável inimizade entre ciência e fé cristã não passa de estratégia debatalha, que afasta o inimigo e facilita o domínio territorial.

Eis, portanto, minha resposta:não existe uma contradição necessária entre a ciência e o conhecimento de Deus– existe uma contradição necessária entre a ciência materialista e talconhecimento. No entanto, substituídos os fundamentos, haverá uma eternaconversa entre ciência e fé cristã, pois será possível redescobrir a verdade deque a glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis éesquadrinha-las.





Sobre o autor:

 Rev. FilipeCosta Fontes é um dos pastores da Igreja Presbiteriana Ebenézer de SP. Bacharelem Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel daConceição; Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia daUniversidade Presbiteriana Mackenzie; Licenciado em Filosofia pela UNIFAI;Mestre em Teologia com concentração em Filosofia pelo Centro Presbiteriano de Pós-GraduaçãoAndrew Jumper; Especializando em Filosofia Contemporânea e História pelaUniversidade Metodista de São Paulo; Mestrando em Educação, Arte e História daCultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

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