terça-feira, 29 de março de 2016

Quarenta dias: a experiência de um penitente iniciante





“Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o Noivo;

e, nesse tempo, jejuarão”

S. Marcos, 4.20



Neste ano, pela primeira vez, assumi o firme propósito de observar o tempo da Quaresma. Não, não sou católico-romano. Pela graça do bom Deus, sou a quarta geração de presbiterianos da minha família. Se para você um protestante observando a Quaresma soar um tanto quanto esquisito, sugiro a leitura deste artigo (colocar link: http://reformedfaith.blogspot.com.br/2015/02/reflexoes-sobre-quaresma-sob-uma.html) do meu confrade Alla Gallo Antonio. Como eu dizia, neste ano, pela primeira vez, assumi o firme propósito de observar o tempo da Quaresma. Tomada a decisão, comuniquei-a à minha esposa, a qual, como verdadeira “auxiliadora idônea” (Gn 2.18), voluntariamente assumiu o mesmo propósito que eu.

Nestes quarenta dias escolhi algumas abstinências dietéticas, bem como a renúncia a alguns confortos e distrações; gastei mais tempo com as minhas devoções particulares e procurei detectar onde e como eu poderia melhorar como cristão, marido e pai. Tal qual Jacó que, por amor à Raquel, laborando em prol do seu sogro, sentiu que os anos passaram-se como dias (Gn 29.20), assim poderia eu dizer que estes últimos quarenta dias passaram-se como se fossem algumas horas. Não quero afirmar, com isto, que o jejum tenha sido fácil; ou que o desejo pelas distrações e confortos voluntariamente renunciados não tenha sido intenso. Não obstante, esses quarenta dias foram de tal forma intensos e reveladores, que o seu transcurso se manifestou, pela assistência do Espírito Santo, graciosamente mais rápido do que o foi na realidade. O presente texto que o caro leitor tem agora diante dos olhos nasceu do desejo deste “penitente iniciante” de comunicar, em linhas bastante simples e práticas, um pouco da sua experiência com a observação da Quaresma.

Observando o tempo da Quaresma eu pude sentir-me em estreito contato com a tradição cristã. A observância de um período de jejum e conversão precedendo a celebração da Páscoa data do século IV da era cristã. Desde então, milhões e milhões de cristãos ao redor do orbe terrestre, de todas as partes do mundo, das mais diversas escolas e tradições cristãs reservaram dias específicos para buscarem, de modo especial, a face de Deus através do jejum, da oração e da leitura das Escrituras. Contemplando agora já o crepúsculo da estação quaresmal, saio da mesma feliz por sentir em maior contato com a nossa bimilenar tradição cristã.

Observando o tempo da Quaresma eu pude constatar a importância de, e a capacidade que o Senhor nos confere, para subjugarmos a nossa carne. As disciplinas física e espiritual às quais voluntariamente me submeti nestes quarenta dias me revelaram como o Senhor Jesus Cristo, de fato, socorre aqueles que são tentados (Hb 2.18); como o Espírito Santo deveras nos assiste em nossas fraquezas (Rm 8.26). Contemplando agora já o crepúsculo da estação quaresmal, saio da mesma fortalecido em meu homem interior, consciente de que realmente não há tentação permitida por Deus que esteja acima das nossas capacidades (1Co 10.13).
Observando o tempo da Quaresma eu pude constatar quanto tempo vinha desperdiçando com coisas triviais. O simples abandono de alguns hábitos, a moderação em algumas práticas, um pequeno sacrifício no tempo de sono... e eis que meu dia “ganhou” algumas horas. Tempo para os exercícios devocionais, tempo para reflexão, tempo para a família. A instrução apostólica para “remir o tempo” (Ef 5.16) ganhou, para mim, sentido e aplicação todo especiais nestas últimas semanas. Contemplando agora já o crepúsculo da estação quaresmal, saio da mesma decidido a consagrar melhor o tempo que o Senhor me tem dado sobre a terra.

Observando o tempo da Quaresma eu pude tornar-me mais consciente de toda a humilhação à qual voluntariamente se submeteu o Nosso Senhor Jesus Cristo enquanto esteve entre nós. Nos períodos em que eu sentia-me mais acossado pelo desejo de transgredir os votos que voluntariamente assumi, eu recordava o exemplo de Cristo, o qual, durante o seu ministério terreno, levou toda uma vida de renúncias, abstinências e sacrifícios. Longe de ser um mero ascetismo irracional e estéril, o período quaresmal foi para mim as lentes pelas quais pude enxergar quão pueris serão as minhas queixas por quaisquer dificuldades que eu venha a enfrentar, quão ínfimas serão todas as limitações com as quais eu venha a me deparar nesta vida; em comparação com o exemplo de Cristo, que “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp 2.7), quaisquer sofrimentos ou contrariedades que eu venha a enfrentar são nada, são “menos que nada, como um vácuo”. Contemplando agora já o crepúsculo da estação quaresmal, saio da mesma decidido a ter firmemente diante dos meus olhos o exemplo de renúncia e abnegação que nos deixou Nosso Senhor Jesus Cristo.

Este foi um singelo resumo da experiência que pude desfrutar ao término desta temporada de quarenta dias. Espero que este relato e o seu tom um tanto pessoal não sejam recebidos pelo caro leitor como presunção, pieguice, ou qualquer outra coisa do gênero. Se este texto tiver servido para despertar o seu interesse pela Quaresma, dar-me-ei por satisfeito em ter exposto – e me exposto – nestas linhas tão desajeitas, um pouco daquilo que o Espírito Santo trabalhou no meu coração nas últimas semanas.

Feliz Tempo de Páscoa a todos!

Christus vincit!

terça-feira, 7 de julho de 2015

Redescobrindo a Igreja Mãe do Presbiterianismo


 
  Série de artigos sobre o Presbiterianismo High Church

Por D. G. Hart
Tradução e Adaptação de Allan A. Antonio
 

O que é high church e low church?

O termo “high church” ou "alta igreja" refere-se a crenças e práticas de eclesiologia, liturgia e teologia, em geral, com ênfase na formalidade dos cultos e resistência à "modernização". Embora usado em conexão com várias tradições cristãs, o termo se popularizou pelas práticas da Igreja Anglicana. As igrejas da tradição “high church” comumente possuem uma teológica rica e conservadora, ao passo que também adotam princípios reguladores de culto, orações escritas, música sacra, uso de vestes pastorais, responsos, proibição de palmas e outros elementos da tradição litúrgica histórica. As igrejas high church são, essencialmente, igrejas históricas.

O conceito oposto ao de “ Alta Igreja”, é o conceito “ low church” ou “Baixa Igreja”. Esse termo corresponde às Igrejas liturgicamente e eclesiológicamente mais contemporâneas. Essse tipo de igreja corresponde (atualmente) ao maior número de igrejas dentro da tradição protestante brasileira

 

Vista externa da Catedral de Santo Egídio (St. Giles' Cathedral) - A Igreja de John Knox - pai do Presbiterianismo.


Os termos “high church” e “Presbiterianismo” raramente são encontrados juntas, e por uma boa razão. Presbiterianos anglo-americanos e seus irmãos reformados do continente europeu não têm se distinguido por possuírem refinadas sensibilidades litúrgicas e nem mecanismos altamente eficientes de proteção do clero. É claro que para os herdeiros de Calvino uma boa teologia é fundamental, mas no espectro eclesiástico protestante, partindo de uma visão “low church” para uma visão “high church”, o melhor que presbiterianos podem fazer é posicionarem-se onde os congregacionais se posicionam, isto é, no meio, com luteranos e episcopais acima e batistas e metodistas abaixo. Talvez isso explique o velho ditado que retrata os batistas como sendo metodistas que usam sapatos, e os presbiterianos como batistas que sabem ler.

Por mais adequado e pertinente que possa parecer para um presbiteriano  habitar em meio às moderadas noções protestantes sobre liturgia e ministério da Igreja, é bem verdade que caso a grande maioria fosse abandonada à própria sorte, ela invariavelmente desceria às regiões mais baixas da sensibilidade eclesiástica.

Então, para batistas que estão trilhando seu caminho para cima, optar pelo presbiterianismo é uma escolha feliz, uma vez que essa mudança raramente demanda ajustes significativos que vão além do Batismo Infantil.



Vista interna da Catedral de Santo Egídio (St. Giles' Cathedral)

 
Minha esposa e eu fomos criados em congregações batistas fundamentalistas nos Estados Unidos, mas agora pertencemos à Igreja Presbiteriana Ortodoxa (Orthodox Presbyterian Church), uma federação de igrejas reformadas, em grande parte de linha “low-church”. Cinco de nossos seis irmãos e irmãs são membros do equivalente sulista da OPC, a Igreja Presbiteriana na América (Presbyterian Church in América – PCA).

Embora possa soar como uma anedota, tal fato confirma a tese de que o presbiterianismo não é uma extensão da fé batista. Em verdade pode ser a preferência denominacional para batistas experimentando certa mobilidade social ascendente, mas enquanto o presbiterianismo oferece uma forma mais clássica de Cristianismo protestante para batistas, seus impulsos “low-church” são em forma de legiões de crentes que desejam uma forma mais sóbria e formal de expressão de devoção.

Nós podemos estar muito distantes daquilo que é exposto por Robert Webber em sua obra intitulada “Evangélicos na trilha de Cantuária”, para dizer que presbiterianos em busca de um modelo mais sério estão se tornando Episcopais. Isso pode ter sido verdade durante os anos 70, mas atualmente presbiterianos buscando certa mobilidade eclesiástica têm tido suas opções expandidas e podem ser agora encontrados entre ortodoxos orientais e católicos romanos.

Rara é a congregação Presbiteriana que oferece a essas almas, liturgicamente centradas, um lar confortável.  Alguns outros presbiterianos tentando extrair certa graciosidade litúrgica de uma tradição que parece não ter nenhuma tendem para uma forma mais clássica de adoração mista. Em vez de introduzirem “louvores” e coros dentro de uma versão padrão de presbiterianismo, aqueles que buscam maior formalidade acabam importando para cultos presbiterianos elementos litúrgicos de outras tradições “high church”.

Tendo esses dados em mente, a questão que permanece sem resposta é: “pode um Presbiteriano ser adepto do modelo high church?” ( continua no próximo artigo).

 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Constituição, Sociedade e Indiferença


Rei João da Inglaterra assina a Magna Carta em 1215



A criação do Estado Constitucional representou sem dúvida alguma um imenso avanço na história da sociedade Ocidental. Suas bases foram, sobretudo, lançadas ao longo de todo o século XVI, especialmente no período da Reforma Protestante liderada por mentes como John Wycliffe, Erasmo de Roterdão, Martinho Lutero e João Calvino. 

Logo após um período de indefinição política na Europa, a Reforma Protestante trouxe à tona a necessidade da criação de um modelo de Estado Constitucional que garantisse os Direitos Fundamentais, Naturais e Inatos da humanidade para todos os seres humanos. 

O pensamento Reformado baseava-se largamente nas concepções de dois grandes filósofos da tradição Ocidental: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. As concepções trazidas por eles foram trabalhadas pelos reformadores de modo que a nova concepção jurídica e filosófica do homem passaria a enxergá-lo de uma maneira total e não compartimentada.

As questões inerentes à natureza humana e a natureza terrena “per se”, passaram a ocupar um espaço no debate acadêmico, do mesmo modo que as questões espirituais ocuparam durante toda a Idade Média de maneira hegemônica. Surgia daí a necessidade de um Estado que procurasse guardar não só a integridade espiritual da comunidade, mas também sua dignidade física, moral e intelectual.

De acordo com a cosmovisão dos reformadores, a humanidade estava dividia em três grandes momentos, a saber: (1) Criação, (2) Queda e (3) Redenção. Partindo dessa perspectiva, os seres humanos foram criados todos iguais por Deus e possuíam a “Imago Dei” (“A Imagem e semelhança de Deus”), portanto, todos os seres humanos eram dotados de dignidade intrínseca e inata e sua dignidade e Direitos deveriam ser reconhecidos e protegidos pelo Estado em sua Constituição.

Por outro lado, na mesma linha defendida pelo filósofo inglês Tomás Hobbes anos mais tarde, o Homem não era naturalmente bom e possuía comportamentos autodestrutivos e destrutivos para com os demais membros da sociedade, devido às consequências da Queda e sua consequente separação do “Divino”. Em outras palavras, o Homem não era essencialmente bom.
Dessa maneira, o Estado seria obrigado a criar mecanismos preventivos de proteção aos Direitos Humanos. Nessa altura, tais mecanismos já haviam sido incorporados indiretamente nas constituições escritas e não escritas de diversas nações ocidentais.

Em que pese à cadência humana e a tendência natural para violação e indiferença aos Direitos Constitucionais, verificada pelos Reformadores e posteriormente pelos Constitucionalistas influenciados por este pensamento, entendia-se que a humanidade caminhava para uma Redenção futura. Isso significava que através da preocupação com a salvaguarda dos Direitos Constitucionais e com a correta e dosada preocupação com as questões que ultrapassavam o limite da realidade natural objetivamente verificável, o Estado conseguiria atingir seu fim pleno: A tutela e proteção da Vida Humana em seus mais diversos aspectos. Partindo dessas premissas trazidas pela filosofia e pela teologia, é que hoje se estrutura o “Rule of Law”.


O Estado Constitucional não poderia mais se furtar com indiferença das necessidades que brotavam no seio da comunidade humana.  As minorias não poderiam mais ser esmagadas, mas a maioria teria o direito de se manifestar e conduzir democraticamente os rumos da sociedade. Desse modo a sacralidade da vida humana em todos os seus aspectos seria perpetuamente protegida por um Documento Constitucional criado através de processos formais ou históricos.

sábado, 18 de abril de 2015

São Paulo é uma cidade encantadora!



Tradicional família japonesa do início do Séc XX


Confesso que um dos lugares que mais gosto de visitar em São Paulo é o bairro da Liberdade. O bairro é tradicionalmente conhecido como a sede da comunidade japonesa em São Paulo.

Não sou japonês e nem tenho nenhuma ascendência oriental, mas o povo japonês cultiva qualidades que pessoalmente me agradam muito, como:

1. Eles preservam sua herança cultural, lingüística e étnica - É fácil notar num simples passeio pelas ruas do bairro, o apego que eles têm com sua escrita (várias bancas de jornal vendem periódicos em japonês e outras línguas orientais), fácil também é perceber que valorizam a comida tradicional e os objetos artísticos que eles mesmos produzem.

Percebi a presença de muitos ocidentais nos três mercados especializados em produtos japoneses que visitei, mas mesmo assim percebi um número razoável de clientes fiéis da própria comunidade que optam por comprar produtos de origem japonesa.

Crianças, adolescentes, jovens e idosos, não importa! Todos estavam comprando produtos de origem oriental e como se não bastasse, pasmem: muitos (inclusive crianças pequenas) se comunicavam em japonês! Mal sabiam andar, mas já ensaiavam as primeiras palavras do idioma de seus ancestrais.  Realmente me senti privilegiado por presenciar aquilo. Foi verdadeiramente uma experiência muito rica.

A longevidade deles também é algo admirável. É comum ver dezenas de senhores e senhoras, de idade bem avançada, caminhando pelo bairro. Eles envelhecem bem, sabem se cuidar, mas ao mesmo tempo sabem aproveitar os lícitos prazeres de uma vida pacata. (Temos que aprender a fazer isso aqui no ocidente).


Outro aspecto interessante é notar que muitos orientais (não apenas japoneses), preferem namorar, noivar e casar com parceiros de sua própria comunidade.  Confesso que pessoalmente, pensei que essa era mais uma daquelas tradições antigas que ninguém mais utilizava hoje em dia, mas para o meu espanto vi dezenas de casais orientais jovens circulando pelas ruas do bairro.  Não sei o porquê isso acontece,  talvez  seja por simples afinidade cultural. Talvez seja mais fácil e menos conflituoso ter um relacionamento com que entende a realidade em que você e sua família vivem. Talvez seja mais simples não ter que ensinar seu parceiro a comer de “hashi”, ou mesmo explicar por que algumas famílias comemoram o ano novo em duas datas distintas.


Não tenho idéia do por que existe essa valorização e incentivo de relacionamentos dentro da própria comunidade, mas confesso que é algo realmente bonito de se ver.

Família japonesa nos dias atuais - Tradição e modernidade caminham lado a lado


2. Eles preservam valores como respeito, trabalho, paciência e gosto pela arte - Em que pese à presença de pessoas de outros lugares no oriente (chineses, coreanos etc), é incrível observar o gosto em comum que eles têm pelo trabalho.  Não importa o ramo: restaurantes, lojas de roupas, consultórios odontológicos, escritórios de advocacia, escritórios de engenharia, lojas de música,  loja de cosméticos, quitandas, mercadinhos, barraquinhas de artesanato, barraquinha de comida, jornaleiros, vendedores de produtos de procedência questionável e até  academias de artes marciais... Tudo é sempre um negócio familiar! É bem comum ver os filhos dos proprietários do negócio passando o dia com seus pais no trabalho ou mesmo tomando parte nos negócios da família.  Pelo que pude perceber em conversas rápidas com alguns membros da comunidade, é que esse tipo de estrutura garante para toda família um meio seguro de subsistência, preserva o contato familiar e ainda por cima garante que o dinheiro sempre circule dentro da própria comunidade. Incrível, não? Medidas tão simples que geram resultados tão sólidos.

É impressionante a consideração que os próprios japoneses demonstram ter com os seus idosos.  Não importa onde, for sempre encontrará um idoso sentado, observando a vida, palpitando, trabalhando ou simplesmente brincando com os netos.  Ao contrário do que temos praticado aqui no ocidente de maneira geral, o idoso parece ter um lugar na sociedade.

No tocante a arte não há muito que ser dito. Eles definitivamente se orgulham do que produzem.  Excelentes academias de artes marciais, música tradicional, quadros, artesanatos diversos, fotos, colecionismo e tudo mais que possa envolver um sentimento de identidade cultural.

Pois é, percebi que os orientais de modo geral têm muito a nos ensinar a respeito do que de fato significa valorizar suas raízes e sua cultura. Nós ocidentais temos sistematicamente negligenciado nossas raízes, nossa cultura e nossa fé.  Talvez, justamente nesse sentimento de amor, pertencimento, gratidão, honra e respeito que resida o verdadeiro significado do quinto mandamento: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor Deus,  te dá.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Reflexões acerca da quaresma sob uma perspectiva Reformada - Por Allan A. G. Antonio







Muitos cristãos verdadeiros têm rejeitado, seja por desconhecimento, seja pela imediata associação com o catolicismo romano, os ensinamentos trazidos pela correta observação do tempo da quaresma. Contudo, esta data celebrada pela Igreja que é, em resumo, o tempo litúrgico reservado especialmente para refletirmos sobre a conversão, as doutrinas da Fé, da Graça, além de ser um momento fundamental de preparação individual e em grupo para o tempo de Páscoa. A quaresma possui raízes muito mais profundas do que a maioria desses cristãos devotos imaginam.

A palavra ‘quaresma’ tem origem na junção de duas palavras oriundas do Latim, “quadragesima” (Quadragésimo) + dies (dia), fazendo, assim, referência ao tempo de 40 dias que antecedem a Páscoa. Sua celebração faz parte da história da Igreja Cristã e de sua tradição, assim como a prática de orar fechando os olhos. Ela é fundamentalmente um período em que devemos refletir na Palavra do Senhor e nos Catecismos, pedindo ao Todo-Poderoso que nos prepare para compreender e viver a celebração da Páscoa em sua integralidade.

Ao que tudo indica, a celebração da quaresma costumava seguir imediatamente a celebração da Epifania, tal qual a peregrinação de Jesus pelo deserto, era seguida imediatamente de seu batismo. Entretanto, logo nos primórdios da Igreja (por volta do século IV d. C.), a celebração da quaresma foi associada à da Páscoa, visto que é uma ocasião propícia para a realização de batismos, profissões de fé, e reconciliações daqueles que haviam sido excluídos da comunhão por faltas graves (isso explica o fato das principais características da quaresma serem autoexame, arrependimento, estudo da palavra e preparação para a Páscoa).

Enquanto os candidatos ao Batismo eram instruídos na Fé Cristã e os penitentes arrependidos preparavam-se por meio do jejum, da oração e do estudo das Sagradas Escrituras a fim de serem readmitidos à comunhão, toda a comunidade cristã era convidada a se juntar a eles no processo de estudo e arrependimento ao longo dos quarenta dias que antecediam a Páscoa. Durante esse tempo, os fiéis eram lembrados também da tentação que Nosso senhor Jesus Cristo suportou no deserto.

Visto não ser um sacramento, a quaresma não é de observação obrigatória, nem está diretamente ordenada nas Escrituras; no entanto, ela não deve ser rejeitada pelo fato de não ser diretamente citada na Bíblia.
Observe-se também que, ao contrário do que possa parecer, a escolha do número exato de quarenta dias não foi aleatória e arbitrária, mas foi feita com base na importância dada pela Bíblia ao número quarenta. Algumas passagens que evidenciam muito bem a relevância do numero em questão nas Escrituras são:

I) por quarenta dias e quarenta noites o dilúvio durou ( Genesis 7:4-12);
II) por quarenta dias Moisés permaneceu no monte Sinai, recebendo a Lei de Deus (Ex. 25:1-8);
III) por quarenta anos reinaram Saul (Atos 12:21), Davi (II Samuel 5:4-5) e Salomão (I Reis 11:42);   
IV) por quarenta dias nosso Senhor Jesus foi tentado no deserto (S. Mateus 4:2);       
V) por quarenta dias o Senhor Instruiu seus discípulos antes da Ascensão (Atos 1:1-3).

A quaresma não deve ser entendida como algo místico ou dotado de algum poder mágico especial. A observância desse período tem como único objetivo trazer o cristão ao centro da vida cristã, enfatizando o estudo da Palavra, a oração, o jejum e a prática da caridade Cristã (para maiores detalhes sobre a verdadeira Caridade Cristã, consulte o livro “Charity and its Fruits” escrito por Jonathan Edwards). Evidentemente, tais virtudes não devem ser cultivadas apenas durante o tempo da quaresma como se fossem obrigações legalistas e através das quais se alcançaria o favor Divino. Muito pelo contrário. A quaresma é o tempo propício para que o Cristão reflita e retome alguns aspectos da vida Cristã que podem haver sido perdidos ou enfraquecidos ao decorrer da caminhada de fé em razão da decaída natureza humana.

Assim fica fácil concluir que a observação da quaresma não se trata de uma prática idólatra, sem fundamento, carregada de misticismo e dispensável como dizem alguns. Antes de tudo, tal celebração é um convite ao arrependimento e à retomada de uma vida Cristã frutífera.



domingo, 5 de janeiro de 2014

Studies on Baptism - Determining A Biblical Approach



How shall we approach the doctrine of baptism? Can we simply search through the concordance for every occurrence of the word, carefully exegete each passage in context and then come to conclusions about the meaning of baptism? Superficial consideration may suggest that this basic approach is not only legitimate, but the only possible method. How else can we discover the meaning of a Biblical word? This is the approach generally taken by Baptists, most of whom insist that any other approach distorts the meaning of baptism in order to force it to fit alien theological contexts. William Shirreff, whose lectures on baptism come recommended by Charles H. Spurgeon, insists at great length that "the Scriptures of the New Testament are the only rule to direct us in regard to the positive institutions of the Gospel." [1]
It is my contention in this paper that there are Biblical reasons for rejecting this approach. In a sense, however, my rejection of this approach is partially based upon this approach. In other words, when we examine the New Testament passages about baptism we discover that baptism is part of a larger theological idea--the Biblical doctrine of the covenant. It is the covenant that supplies the answer to the most basic questions of water baptism: Why should Christians practice baptism? What does baptism mean? Who is qualified to receive baptism? No matter what our understanding of baptism is, we are forced to consult some larger theological context. We cannot avoid the question: How does baptism fit into the whole context of the Biblical teaching about man's relationship to God. Also, any approach must consider the larger context of Biblical ceremonial teaching in general as an aspect of man's relationship to God.
But it should not be thought that we impose these theological considerations on the text of the Bible. It is rather the Bible, specifically the New Testament, that forces us to think in broader theological terms. There are at least three types of passages that compel us to examine the Old Testament to understand the doctrine of baptism.
First, there is the ministry of John the Baptizer. John is a transitional figure, a prophet of the old covenant preparing the way for the new. Jesus specifically identifies John as a prophet of the old covenant:
"Verily I say unto you, Among them that are born of women there hath not risen a greater than John the Baptist: notwithstanding he that is least in the kingdom of heaven is greater than he. And from the days of John the Baptist until now the kingdom of heaven suffereth violence, and the violent take it by force. For all the prophets and the law prophesied until John. And if ye will receive it, this is Elias, which was for to come" (Mat. 11:11-14; cf. Mat. 17:11-13; cf. Luk. 3:3ff.).
John was not merely an Old Testament prophet, he was a prophet, like Ezekiel, from a priestly family (Luk. 1:5). John's baptism, thus, was an old covenant ceremony conducted by an old covenant priest. In this connection it is important to note that when he was examined by the priests and levites, they made no objection to the practice of baptism; they only questioned his authority to baptize (John 1:19ff.), suggesting that John's baptism conformed to Jewish ceremonial standards.
Everything that the New Testament tells us about John, in other words, points us to the old covenant and its ceremonies as the only possible source of understanding. How would an old covenant prophet, especially one belonging to a priestly family, practice "baptism"? What does "baptism" mean to priests and levites in the days of Jesus? Can anyone answer these questions honestly or Biblically without considering the Old Testament?
A second type of New Testament passage that compels us to consider the Old Testament background of baptism is those passages that refer to old covenant ceremonial washings as "baptisms." Mark refers, for example to the pharisees' perversion of the Old Testament system of ceremonial washings as "baptisms" (Mark 7:1-8). The book of Hebrews identifies the old covenant ceremonial washings themselves as "baptisms" (Heb. 9:10). The word "baptism," then, is clearly not a technical term that only refers to Christian baptism. The New Testament tells us that the Old Testament ceremonial washings are also baptisms.
A similar type of passage, although not speaking of regular Old Testament ceremonies, is seen in Paul's epistle to the Corinthian Church, which had experienced various problems with baptism (1 Cor. 1:11-17). Paul, in a context emphasizing the relevance of the Old Testament for Christians, says that Israel fleeing from Pharaoh's army was "baptized unto Moses in the cloud and in the sea" (1 Cor. 10:2). Taking into consideration both the facts that the Corinthian Church had problems with baptism and that Paul's purpose here is to stress the importance of the Old Testament teaching, this passage is especially meaningful.
The third, and most significant type of passage is found in the New Testament teaching about baptism and the Lord's Supper. Both of the Christian ceremonies are clearly depicted as covenantal ceremonies. Baptism in particular is expressly designated as a covenant ceremony like circumcision in the Old Testament (Col. 2:11-12). The Lord's Supper is called the new covenant in His blood (1 Cor. 11:25) and is also said to be analogous to the passover (Luk. 22:15ff.; 1 Cor. 5:7ff.).
When the New Testament itself places the doctrine of baptism and the related doctrine of the Lord's Supper in the larger context of the covenant, we are obligated to consider the whole teaching of the Bible on the subject of the covenant and the whole idea of covenantal ceremonies. To entirely separate the new and old covenants is virtually to posit two different religions in the Bible, one for people before the coming of Christ and another for those after His coming. This is certainly not the teaching of the Bible. Paul, for example, argues in various epistles that the Christian religion is the fulfillment of the religion of the old covenant, that we are saved just as Abraham was saved, that Christians are the true heirs of the Abrahamic covenant, that to keep the true teaching of the law and the prophets is to believe in Jesus. Neither Paul or any other New Testament writer even suggests that the new covenant is different from the old covenant in its fundamental principles. Paul believed he was continuing the teaching of the law and the prophets at the higher level of new covenant fulfillment, not that he was replacing a dead religion with a living one.


To restate this point in different terms, to argue that the doctrine of baptism is part of the larger Biblical teaching on the covenant is simply to argue that the Bible is one book, not two. Indeed, the very idea of dividing the Bible into two books, the Old Testament and New Testament, while convenient for purpose of reference, like chapter and verse divisions, is not a Biblical idea. The Bible is one book from Genesis to Revelation. It is not two books under one cover, the older part of which is believed by Jews and the newer part of which is believed by Christians.
The so-called Old Testament is an incomplete revelation which Jesus came to complete. The Gospels, Acts, the epistles and the Revelation of John complete the revelatory project that began with Moses. We must insist that the Bible is one, its religion is one, its teaching is unified and that everything taught in the Bible, although not directly addressed to us and perhaps not directly applicable, is applicable in some manner: "All scripture is given by inspiration of God, and is profitable for doctrine, for reproof, for correction, for instruction in righteousness: That the man of God may be perfect, thoroughly furnished unto all good works" (2 Tim. 3:16-17).
Conclusion
Examination of the New Testament references to baptism informs us in no uncertain terms that no "declaration of independence" can separate the doctrine of baptism from old covenant ceremonies or the doctrine of the covenant. The example of John the Baptizer, the explicit use of the word baptism to refer to old testament ceremonies, and the express identification of both baptism and the Lord's Supper as covenantal ceremonies compel us to construct a "whole-Bible" doctrine of baptism as opposed to a merely "New Testament" doctrine of baptism.
If we read the Bible beginning from Genesis rather than Matthew, a covenantal meaning for baptism and the Lord's Supper is what we expect since all religious ceremonies in the Old Testament are covenant making or covenant renewal ceremonies. Ceremonies in the Bible are not magical, as in paganism, nor are they mere ceremonies, outward rites practiced merely for their educational value.
Given the covenantal nature of Biblical religion, how could the new covenant ceremonies of baptism and the Lord's Supper be fundamentally different from the old covenant ceremonies which they replace? And how is it possible for us to have a Biblical understanding of new covenant ceremonies unless we study them in the light of the old covenant ceremonies which they fulfill?

Notes
[1] William Shirreff, Lectures on Baptism (London: Passmore and Alabaster, 1878; reprinted by: Ft. Smith, Arkansas: The Baptist Standard Bearer, 1987), pp. 12-33.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Daily Devotional - English ( Devocional diária em inglês)

A FIRST BOOK OF DAILY READINGS

by D. Martin Lloyd-Jones (selected by Frank Cumbers)
...God sitteth on the throne
And ruleth all things well!
Things do not just happen. Events are not just accidental, for there is a definite plan of history and everything has been pre-arranged from the beginning. God who "sees the end from the beginning" has a purpose in it all, and knows "the times and the seasons." He knows when to bless Israel and when not to bless her. Everything is under His hand.
It was "when the fullness of the time was come" that God sent forth His Son. He allowed the great philosophers, with the clarification of thought, to come first. Then emerged the Romans, famous for ordered government, building their roads and spreading their wonderful legal system throughout the world. It was after this that God sent forth His Son. God had planned it all.
There is a purpose in history, and what is now happening in this twentieth century is not accidental. Remembering that the Church is at the center of God's plan, let us never forget the pride and arrogance of the Church in the nineteenth century. Behold her sitting back in self-satisfaction, enjoying her so-called cultured sermons and learned ministry, feeling just a little ashamed to mention such things as conversion and the work of the Holy Spirit.
Observe the prosperous Victorian comfortably enjoying his worship. Note his faith in science and his readiness to substitute philosophy for revelation.... Yes, the Church needed chastisement, and it is not at all difficult to understand this twentieth century when we consider the story of the nineteenth. There is indeed a plan discernible in all these things.
God does not stop to consult us, and everything takes place according to "the counsel of His own will." God has His time; He has His own way; and He acts and works accordingly.


From Fear to Faith, pp. 22-3

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O "deus" mendigo




Como sabemos, o "evangelicalismo" prega um deus que não é das Escrituras. Um deus, a saber, criado pela mente carnal e idólatra de cada um, a fim de atender as carências carnais dos mesmos. Assim, para ilustrar melhor, segue um breve diálogo que, o mais clara e concisamente possível, tenta mostrar como é a visão do deus deles, mesmo inconscientemente. 

"deus" e o mendigo

*¹- Por favor, aceite!
**²- Não, eu não quero! Não aceito!
¹- Mas, por favor... eu estou querendo te dar, por que não aceita?
²- Porque eu não quero aceitar e ponto! Você não pode me forçar a nada.
¹- De fato, eu não posso... e por isso choro.
²- Chore, não me importo. Chore por não poder fazer nada, nada! Seu fraco!
¹- Mas... por que você não aceita? E se caso eu implore? De joelhos, eu faço!
²- Eu poderia pensar no seu caso... mas provavelmente não.
¹- Eu faço o que você quiser, eu juro! O que você quer?
²- Huuumm... Queria alguns consolos e mimos, pode ou tá difícil?
¹- O que você quiser, é só falar!
²- Ah, pensando bem, eu não quero esses seus favores patéticos.. tu pede em troca que eu o ame;
uma pergunta, por que você é tão carente?
¹- Sim, exato! Eu dou o que você quiser, em troca, peço-te apenas que me ame!
²- Não, obrigado... é muita carência pro meu gosto.

***³-Por que ele não nos aceita, papai? Por que? Por que ele não nos quer?!
¹- Calma, meu filho, calma... precisamos ter paciência e implorarmos mais. Mas, sabe? Eu tive uma ideia! Que tal você morrer por ele? Talvez tu o conquiste se assim fizer.
³-Ótima ideia, papai! Morrerei! Mas... estou com medo. Só morrerei se eles quiserem me matar, afinal, não posso forçá-los a nada. Não tenho poder pra isso.
¹- Ótimo, filhinho! Morra por ele! E por todos! Todo mundo merece sua morte, todos estão carentes por isso! E vai saber, né? Se tu morrer, talvez todos nos amem; e outra, aquele ser não é mau, apenas incompreendido.

[...]

³-Papai, morri por eles. Morri, mas eles não me querem mesmo assim. Aquele homem ainda me detesta. Por que, papai? Por que?!
²- Olha, vocês por aqui novamente? Com essa fraqueza toda, prefiro muito mais meus problemas e sujeiras mesmo...
¹- Calma, filhinho, calma... talvez algum dia eles nos amem. Talvez... algum dia, quem sabe? Só nos resta esperar pela boa vontade deles, e que eles abram o coração bom e amável deles, pois, afinal, o coração do ser humano é maravilhoso, apenas incompreendido e carente de amor dos céus. Nós temos esse amor, filhinho. Só precisamos que eles aceitem de bom grado. Eles vivem! Eles são! Glórias ao homem e não a nós!

[¹* "deus" da "livre-escolha" do "evangelicalismo" criado por suas mentes idólatras;
²** Mendigo;
³*** "jesus" imaginário dos mesmos citados no item primeiro]

[...] deus é o mendigo. 
E o mendigo, deus.


Infelizmente, esta é a realidade. Proclamam um deus fraco, que não é o das Escrituras. Um ídolo, uma imagem, com pretexto de amor e benignidade, mas, na realidade, exala apenas carnalidade, idolatria e fraqueza; por conseguinte, deve ser declarado anátema, ao som da proclamação do verdadeiro evangelho de Cristo Jesus, nosso Senhor.

Mas sabemos que nosso DEUS, o Altíssimo, não é assim. É absolutamente Soberano sobre todas as coisas, e faz o que quiser, com quem quiser e quando quiser. Toda glória, honra e majestade ao único que é digno.


"Eu sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças;Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o SENHOR, e não há outro.Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas." 
(Isaías 45:5-7)